Existem
longas listas de filmes de moda importantes para quem gosta de assistir filmes
e ficar um pouco mais por dentro do mundo da moda. Mas diante dessa variedade
de filmes, " Zuzu Angel" me chamou atenção, porque além de retratar a
vida de umas das estilistas mais importantes da história da moda no Brasil,
retrata também a luta de uma mãe que quer justiça pela morte de seu filho
Stuart Edgar Angel Jones, que foi torturado e assassinado pela ditadura militar,
no início dos anos 70.
Stuart,ingressou na militância política junto com a sua companheira Sonia no movimento estudantil. Mais tarde, ele passa a fazer parte do MR8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro). Inicialmente Zuzu não conseguia compreender as razões de seu filho e por isso não concordava com sua luta. Atordoada, pela censura do regime, a estilista não aceitava a opção política de Stuart. Após receber um telefonema anônimo que dizia que seu filho estava morto, Zuzu luta para descobrir o paradeiro e depois denunciar insistentemente a morte de Stuart e sua vida muda completamente. Mais do que apenas retratar o sofrimento de uma mãe, o filme mostra a sensibilidade e a imensa transformação ocorrida na vida e na própria consciência política da estilista, que passa ser defensora dos ideais do filho. Zuzu passou anos denunciando as arbitrariedades da repressão até morrer em um acidente de carro suspeito em 1976.
A moda foi grande aliada de Zuzu durante a sua luta por justiça. Censurada aproveitou um desfile de moda em Nova Iorque para mostrar vestidos estampados com temas alusivos à repressão política no Brasil e, ao final, subiu no palco para protestar com o retrato de seu filho nas mãos.
Zuzu sempre trouxe em suas criações temáticas brasileiras, tornando os seus trabalhos originais, fazendo uso de cores tropicais e materiais brasileiros, o que foi o motivo ao seu sucesso. Foi a primeira a utilizar na moda as pedras brasileiras, fragmentos de bambu, madeira e conchas. Ela começou como costureira, depois tornou-se “designer” de moda, criando belíssimas e interessantes peças. Fez saias, xales e vestidos com panos de colchão, fitas de gorgorão, rendas do norte, chita, utilizando estampas de pássaros, flores e borboletas.
Zuzo Angel ainda é considerada referência no mundo fashion, foi a primeira a começar a exportar seus modelos, que são copiados e fonte de inspiração até hoje. Em 2001, o estilista mineiro Ronaldo Fraga prestou uma homenagem à conterrânea Zuzu, com uma coleção inspirada nela e intitulada “Quem matou Zuzu Angel?”, emocionando a platéia do SPFW. A passarela foi coberta de nuvens e bonecos foram pendurados, representando presos políticos e torturados. Segundo Ronaldo Fraga: “Ela foi a primeira a buscar a identidade da moda brasileira, a falar de Brasil sem trajes típicos, a acreditar no poder panfletário da moda, a bordar usando artigos brasileiros e a fazer moda política. Ela foi única”
Márcia Gonçalves Pacheco
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